sexta-feira, 1 de maio de 2009

Repressão

“Devemos intervir nas tribos da África que realizam o ritual de mutilação genital feminina?” O problema foi apresentado e discutido em cerca de 45 minutos de aula e não chegamos à conclusão alguma. Foi na outra semana que a resposta de um filósofo brasileiro encerrou a questão. “Devemos intervir toda vez que a individualiadade da pessoa estiver ameaçada.” Uma tese bela, que ninguém pode em sã consciência discordar, pois seria o mesmo que se dizer a favor da repressão. Mas como toda tese filosófica, não importa o quão bela, irrefutável ou aceita, tem sua execução um tanto quanto improvável, senão impossível. Afinal, todo mundo é reprimido em alguma ocasião da vida e quem é que vai definir o que é “menos pior” do que ser, na prática, forçada a ter milhares de terminações nervosas arrancadas com vidro quebrado?

Avaliemos uma repressão à la Marxista, do operário. João aperta parafusos numa indústria que monta motores de tratores. João não quer apertar parafusos – ninguém quer -, mas o precisa, muito embora queresse ser, digamos, compositor. Enquanto João é, na prática, obrigado a prestar serviços apertando parafusos, centenas de motores são montados e tratores remexem a terra da plantação de arroz. É este o arroz que é vendido nos supermercados e que chega às mesas das famílias. Estas famílias, portanto, comem por causa da repressão da individualiadade do João. Se intervíssemos e João se tornasse um compositor, quem iria apertar os parafusos? Consegue pensar em alguém que não sofresse repressão?

Agora pensemos em uma escola. Pense na Júlia da equipe de limpeza, que preferia estar cantando. Pense no professor Afonso, que gostaria de dirigir mais rápido, mas a estrada tem limite de velocidade. Pense na Maria, que gosta de biologia, mas está na aula de filosofia. Todos gostam e querem fazer aquilo que lhes agrada, mas têm de se conformar com aquilo que estão fazendo porque precisam seguir leis, ganhar dinheiro, passar no vestibular, e daí por diante.

Se somos todos reprimidos, o que é que acontece se, hipotéticamente, conseguíssemos intervir em tudo??



A minha resposta foi “anarquia”.

Um comentário:

  1. "Pense na Maria, que gosta de biologia, mas está na aula de filosofia." - Qualquer semelhança com a realidade é puramente coincidência, né?

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